© EDP Pecém/Divulgação Uso das termelétricas será intenso na primeira quinzena de janeiro, mas pode diminuir se as chuvas vierem.

Após um dezembro marcado pelo acionamento da bandeira vermelha patamar 2, em janeiro a cobrança deve se arrefecer, mas pode ainda não ser zerada. Especialistas no mercado de energia apontam para a perspectiva de que pelo menos a bandeira amarela seja acionada, já que ainda deve ser necessário o uso de algumas usinas térmicas. Com isso, a taxa adicionada à conta de luz deve diminuir dos atuais R$ 6,243 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos para R$ 1,343 a cada 100 KWh.

Depois de observar as condições ruins dadas pelos baixos níveis dos reservatórios, associados à previsão de chuvas abaixo da média histórica, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) decidiu na semana passada retomar antecipadamente o sistema de bandeiras. O mecanismo havia sido suspenso em maio devido à pandemia do novo coronavírus, quando agência determinou acionamento da bandeira verde, sem cobrança de taxa extra, até o fim deste ano.

Mas a visão do mercado de energia é de que a decisão refletiu o pico do cenário crítico de hidrologia e que o pior já passou. “Hoje, quando fazemos a projeção, já temos uma expectativa de que para janeiro tenha bandeira amarela, e para fevereiro, com o retorno das chuvas para os níveis médios, a bandeira fique verde”, afirmou a gerente da consultoria Thymos Energia, Ana Carolina Silva.

O cenário leva em consideração que o chamado preço spot de energia, tecnicamente conhecido como preço de liquidação das diferenças (PLD), já está baixando, após ter atingido o pico de R$ 559,75 por megawatt-hora (MWh), o valor máximo estabelecido para este ano. “O PLD do início de dezembro foi resultado das condições que já não estavam tão boas nos meses antes, mas agora a tendência é melhorar”, afirmou Silva.

O presidente do conselho de administração da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), Rui Altieri, considerou que, se continuar chovendo, a tendência é que haja menor utilização de termoelétricas em relação à operação atual, que conta com 100% do parque gerador térmico em operação. “Mas certamente dezembro e janeiro vai ter um uso forte de térmicas, porque o reservatório está muito baixo, precisa recuperar”, disse a jornalistas.

Segundo ele, se em janeiro houver chuvas intensas, acima da média histórica, o cenário muda. Ele considera que o uso de termoelétricas será intenso pelo menos na primeira quinzena de janeiro, e pode reduzir a depender da precipitação.

Conta mais cara em janeiro
O diretor presidente da Trinity Energia, João Sanches, também considera a perspectiva de bandeira tarifária amarela ou até vermelha, patamar 1, em janeiro, tendo em vista a situação crítica dos reservatórios, especialmente do Sudeste e do Sul. “Mesmo com o início das chuvas, o armazenamento dessas regiões foi muito depreciado, porque teve um período seco muito severo nos últimos meses e normalmente nesse período já começam as chuvas e o reservatório começa a ficar estável, e não continua a cair”, disse.

Sanches lembrou que a previsão é chegar ao fim de dezembro com um dos piores armazenamentos da história – o subsistema Sudeste/Centro-Oeste opera, hoje, com 16,45% da capacidade e perspectiva de chegar a 17,6% no encerramento do mês. “Isso pode implicar que, mesmo com preços não tão altos, termelétricas sejam acionadas para que se consiga preservar e recuperar os reservatórios para o próximo período seco, porque como estão muito depreciados e as chuvas estão atrasadas, não teremos muito tempo para que reservatórios se recuperem, mesmo com boas chuvas, e isso pode, sim, provocar acionamento de bandeiras.”

A diretora executiva da Escopo Energia, Lavinia Hollanda, também considera que a tendência é de bandeira amarela acionada em janeiro. Para ela, a bandeira vermelha patamar 2 não foi uma surpresa. Ela cita a condição dos reservatórios e fato de que tem havido crescimento da carga acima do esperado. “Toda vez que se fala em bandeira tarifária, aponta-se como uma notícia negativa, mas é um mecanismo de sinalização de que os reservatórios estão mais vazios e produzir energia está mais caro, o que pode gerar impacto para consumidor na frente e gerar problema de caixa para as distribuidoras. É uma oportunidade para o consumidor otimizar e estudos mostram que gera reflexos”, avalia.

Na mesma linha, o presidente da PSR, Luis Barroso, comenta que considera natural o acionamento da bandeira tarifária com a piora hidrológica, já que é uma sinalização econômica para o consumidor sobre o custo mais elevado da energia. “Cada KWh economizado é um KWh caro de térmica”, disse. Na sua avaliação, a bandeira poderia estar mais elevada desde agosto não fosse a decisão inicial da Aneel, tomada no fim de maio, de manter a bandeira verde. Ele disse considera natural a bandeira permanecer com cobrança mais elevada por mais tempo, a depender da hidrologia.